Código do Crime
Rede (in)segura
PF ATACA BARÕES DO TRÁFICO DE COCAÍNA PARA EUROPA COM DADOS DE APLICATIVOS DESCRIPTOGRAFADOS
2023 - 37,5 mil quilos de cocaína foram apreendidos no Brasil, de janeiro a junho.
Os aplicativos de mensagem criptografados invadidos e hackeados, na Europa e Estados Unidos
CASO SKYECC
OPERAÇÃO ARGUS
Uma força-tarefa Bélgica, França e Holanda, chamada de EMMA, com apoio da Europol, prendeu 48 pessoas. Criado para servir de aplicativo de comunicação segura, contra invasões da polícia, ele virou a maior rede criptografica do mundo, após criminosos abandonarem o EncroChat (alvo em 2020). O aparelho é um telefone celular comum, para quem vê por fora. Ligado, tem imagens de aplicativos iguais aos outros telefones, mas só servem para comunicação secreta. Cada aparelho custava US$ 2 mil e o serviço mensal mais US$ 2 mil. O telefone têm câmeras, microfones e GPS, mas eles não funcionam. As mensagens criptografadas são destruídas automaticamente e há uma senha de “pânico”, para zerar o conteúdo, em caso de emergência. O SK era usado pelas máfias italianas, dos balcãs, pelos carteis latino-americanos e por grandes traficantes brasileiros.CASO ENCROCHAT
CASO ANOM
OPERAÇÃO CAVALO DE TROIA / HOMEM DE FERRO / LANTERNA VERDE - Anom foi criado pelo FBI, após um hacker especialista em sistemas de comunicação criptogafada desenvolver e difundir, entre as grandes redes do crime organizado, o sistema. Desde 2019, a polícia norte-americana, em parceria com a polícia da Austrália, criaram o aplicativo, que foi usado por 12 mil pessoas, em mais de 100 países. O aplicativo era acionado por meio de um código. O FBI monitorava em tempo real conversas de traficantes de drogas, de armas, de pessoas, gangues, entre outros. 800 pessoas foram presas, com operações em 16 países. Além de 8 toneladas de drogas e US$ 48 milhões em espécie e em criptomoedas, apreendidos. A operação foi classificada por autoridades como “uma das maiores e mais sofisticadas” ofensiva contra o uso de criptografia pelo crime organizado, um “golpe sem precedentes” para o crime organizado.
Banco de dados e cooperação internacional fazem disparar apreensões de pó pela PF
Por ano, em média, 100 toneladas de cocaína são apreendidas pela Polícia Federal, no Brasil. É muita cocaína. E mesmo assim, só uma pequena parte do total traficado da droga para a Europa e outros destinos internacionais. Os números confirmam o aumento das ações contra os barões do tráfico. A pedido do SBT News, a PF forneceu os dados da série histórica, desde 1995. A curva de crescimento é auto explicativa.
Até início do milênio, o número de apreensões de cocaína não passava das 10 toneladas ano. Nos anos 2000, a quantia média que ficava nas blitze e operações da PF, chega a casa das 20 toneladas/ano. E assim permanece até final da segunda década. Em 2010, por exemplo, foram apreendidas 27 toneladas, mesma quantia de 2015. Só depois de 2016, o total do pó retido pelos polícias passou a casa das 50 toneladas/ano.
"Tendo acesso essas comunicações, a gente tem dois resultados bastante práticos: o primeiro é nos casos concretos, nas investigações, realizando prisões, apreensões, localização e apreensão de bens; o segundo resultado, é da construção de uma inteligência de como as organizações criminosas atuam, quem é quem no tráfico internacional de drogas, quem são os principais players, quem são os players só de apoio, quem são os produtores. Isso tudo, a gente consegue mapear a partir do acesso a essas comunicações", explicou o delegado da PF Ricardo Saadi, chefe da Dicor.
A COCAÍNA
É uma droga estimulante do sistema nervoso central, feita à partir da folha de coca (o nome científico da planta é Erythroxylum coca), consumida em forma de pó (cloridrato de cocaína), cheirada ou injetada, ou em forma de pedra (crack), fumada.
O Brasil não produz cocaína, mas é entreposto estratégico na logística dos cartéis sul-americanos para envio da droga para a Europa. Uma tonelada da droga corresponde a 1 mil quilos, que é a quantia que contém cada tablete da droga, na sua versão mais pura, destinada à Europa e demais continentes.
Da América do Sul, o quilo sai valendo US$ 1 mil. Nos países europeus, o tablete do pó pode chegar valendo US$ 40 mil. Nas ruas, o preço sobe ainda mais, o grama chega a custar US$ 70,00, o equivalente á US$ 70 mil.
A ROTA DO ATLÂNTICO DO PÓ
ORIGEM A Bolívia, Colômbia e o Peru são os produtores da cocaína pura, a partir do processamento da folha da coca. Na rota para a Europa, a maior parte do pó vem da Bolívia e do Peru. Os cartéis sul-americanos comandam o mercado. Os cartéis colombianos de Cali e Medellín perderam força e nome.
PASSAGEM O Brasil é o principal entreposto logístico. A droga atravessa as fronteiras, dos países produtores, e pelo Paraguai, pelo Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Amazonas e Roraima, em pequenos aviões, por estradas e rios. Os tabletes do pó percorrem o país por estradas e em aviões e seguem para os portos e aeroportos.
DESTINO Os países da Europa e parte da África são os compradores dessa cocaína. Os portos de Antuérpia (Bélgica), Roterdã (Holanda), Le Havre (França), Hamburgo (Alemanha), Algeciras (Espanha) são as principais portas de entrada. As máfias dos Balcãs (Bósnia, Sérvia, Albânia, Croâcia, entre outros) e as italianas (Ndrangheta, Cosa Nostra, Camorra), dominam o negócio.
OPERAÇAO HINTERLAND
Um drone da Polícia Federal registra em vídeo o momento da chegada das equipes, no Porto de Rio Grande (RS). Era 6h da manhã e o alvo era uma das maiores empresas instaladas nas docas. As investigações, conduzidas pelo delegado da PF Cleberson Alminha, no Rio Grande do Sul, mostraram que a firma legalmente aberta, com filial no Porto de Itajaí (SC), que operava em franca expansão, era parte de uma gigantesca holding do crime, especializada no tráfico internacional de cocaína pura para a Europa, que tinha como grande cabeça, um brasileiro.
Os donos da empresa de logística teriam se associado aos traficantes e usavam as operações legais e formais, dentro dos portos, de envio de cargas para facilitar o "serviço" de contaminação dos contêineres, que embarcam para a Europa. "Contaminar" é o termo usado pela polícia e pelos bandidos para se referir a colocação dos tabletes de cocaína, nos carregamentos de frutas, grãos, máquinas e outros. "Eles mascaravam as drogas, introduziam usando as mais diversas formas e meios para enganar os controles alfandegários", explicou o delegado da PF.
PARAGUAI - Naquele mesmo horário, no dia 30 de março, a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai prendia Rodrigo Alvarenga Paredes, no hangar particular que o empresário tem nos arredores da capital, Asunción. O alvo era conhecido como empresário do ramo financeiro e pecuarista, no país, mas escondia seus negócios com o tráfico. As polícias apontam Alvarenga - como é conhecido - como responsável por uma estrutura que levava a cocaína da Bolívia, Colômbia e Peru para o Paraguai e depois para o Brasil, via divisa com o Mato Grosso do Sul, na região de Ponta Porã (MS). Ele também lavava o dinheiro com gado, em fazendas da região de fronteira, em investimentos e empresas. O tráfico bancava um vida de luxo e ostentação. (VEJA IMAGENS)
A Operação Hinterland é um exemplo recente das grandes operações que a PF tem realizado, em parceria Receita e Ministério Público, no Brasil, e com cooperação internacional com as polícias de outros países e apoio da Europol e Interpol.
"O combate ao crime organizado transnacional e o combate ao tráfico internacional de drogas não são efetivo se não tiverem cooperação entre os países, entre as agências", afirma o delegado Ricardo Saadi, chefe da Dicor. Segundo ele, a ação atingiu todas as etapas da rota do Atlântico. "Estamos investigando todo o caminho do tráfico, desde a produção, nesse caso na Bolívia, o transporte dela, passando pelo Paraguai e vindo para o Brasil, até o encaminhamento, a partir dos portos brasileiros, para a Europa. Investigamos o ciclo completo do tráfico."
As informações dos casos e dados obtidos das autoridades da Europa e cruzadas com o banco de dados das redes de comunicação secreta dos criminosos levaram a PF à descoberta do envolvimento da empresa nos portos de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC). Confirmaram ainda que os negócios eram parte de um gigantesco e profissional esquema operado por um dos barões do pó mundial, Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho. Um ex-policial militar do Mato Grosso do Sul que está preso na Bélgica e passou os últimos anos operando uma das maiores redes de envio de droga para a Europa.
As apurações começaram há dois anos, depois de uma carga de 316 quilos de cocaína, escondida em sacos de adubo desembargar no porto de Hamburgo, na Alemanha. Em 2022, um carregamento de 4,6 toneladas da droga foi apreendida em um navio de pesca, já próximo da Costa da África, com ajuda da Marinha da França. As informações dos casos e dados obtidos das autoridades da Europa e cruzadas com o banco de dados das redes de comunicação secreta dos criminosos levaram a PF à descoberta do envolvimento da empresa nos portos de Rio Grande (RS) e Itajaí (SC).
Confirmaram ainda que os negócios eram parte de um gigantesco e profissional esquema operado por um dos barões do pó mundial, Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho. Um ex-policial militar do Mato Grosso do Sul que está preso na Bélgica e passou os últimos anos operando uma das maiores redes de envio de droga para a Europa.
O SBT News ouviu autoridades, consultou documentos de inquéritos, processos, estudos e viajou no Brasil e na Europa para a Série de Reportagens O CÓDIGO DO CRIME. Em quatro episódios, o SBT News e o SBT Brasil mostram: o avanço no combate ao tráfico internacional de cocaína para a Europa pela PF e polícias do mundo; lista as ações conjuntas transnacionais contra o tráfico na chamada Rota do Atlântico; as rotas e os meios de envios da droga mais usados por traficantes; os canais de transbordo da cocaína; o papel do Brasil como entreposto logístico; mostra que é o ex-PM brasileiro que virou um dos barões do pó na Europa; mostra a nova dinâmica dos cartéis produtores (Colômbia, Bolívia e Peru); o problema da guerra nas fronteiras secas; as máfias compradoras da droga, na Europa; os portos nacionais e internacionais mais usados. Na segunda reportagem da série, você vai ficar por dentro de quem é o ex-PM brasileiro que virou barão do pó, Sérgio Roberto de Carvalho, o Major Carvalho, e o papel do Brasil na rota mundial do tráfico de cocaína.